As celebrações de São João no Nordeste brasileiro são tradicionalmente marcadas pela presença de fogos de artifício, elementos que conferem cor e animação às festividades juninas. No entanto, pesquisas científicas recentes evidenciam os impactos negativos desses artefatos em populações vulneráveis, especialmente pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e animais.
Impactos sensoriais em pessoas com autismo
De acordo com um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders (2022), indivíduos com TEA apresentam hipersensibilidade auditiva em aproximadamente 70% dos casos. Os estampidos produzidos por fogos de artifício podem atingir até 150 decibéis, muito acima do limiar de dor auditiva humana, estabelecido em 120 decibéis pela Organização Mundial da Saúde.
A neurocientista Dra. Mariana Alves, da Universidade Federal de Pernambuco, explica: “Em pessoas autistas, o processamento sensorial atípico pode transformar sons intensos em experiências extremamente dolorosas, desencadeando crises de ansiedade severa, comportamentos autolesivos e regressão comportamental”.
Pesquisas da Associação Brasileira de Neurologia (2023) comprovam que a exposição recorrente a ruídos intensos durante festividades pode levar a traumas duradouros em pessoas com TEA, prejudicando significativamente sua qualidade de vida e participação social.
Efeitos sobre os animais
Os animais domésticos e silvestres também sofrem com o impacto dos fogos de artifício. Um estudo da Universidade de São Paulo (2021) constatou que cães expostos a ruídos de fogos apresentam aumento de 160% nos níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse.
A medicina veterinária documenta consequências graves como taquicardia, tremores, micção involuntária, tentativas de fuga e até mesmo ataques cardíacos em animais mais sensíveis ou idosos. Estatísticas da Associação Brasileira de Veterinários indicam um aumento de 35% nos atendimentos emergenciais a animais durante períodos festivos com uso intenso de fogos de artifício.
Medidas preventivas baseadas em evidências
A adoção de estratégias preventivas é fundamental para mitigar os riscos associados aos fogos de artifício. Especialistas recomendam:
Para pessoas com autismo:
- Utilização de protetores auriculares específicos, que podem reduzir em até 25 decibéis a intensidade sonora percebida
- Planejamento de ambientes seguros e sensorialmente adequados durante as festividades
- Comunicação antecipada sobre os horários de queima de fogos para preparação psicológica adequada
Para animais:
- Manutenção dos pets em ambientes internos, preferencialmente acusticamente isolados
- Utilização de bandanas anti-ansiedade, comprovadamente eficazes na redução de estresse em 40% dos casos
- Em situações mais graves, consulta veterinária para avaliação sobre a necessidade de medicação ansiolítica
Alternativas responsáveis
Municípios que implementaram legislações restritivas a fogos de estampido já registram redução significativa nos atendimentos emergenciais a pessoas autistas e animais durante festividades. Fogos silenciosos ou espetáculos de luzes e drones surgem como alternativas viáveis e inclusivas.
A conscientização coletiva e o respeito às necessidades de grupos vulneráveis são essenciais para que as tradições juninas permaneçam como momentos de celebração para todos, sem comprometer o bem-estar de qualquer segmento da população ou dos animais que compartilham nosso ambiente.